terça-feira, 1 de outubro de 2013

Acabou o amor

O fim de semana em Aragón estremeceu a relação entre Marc Márquez e Dani Pedrosa. Durante uma disputa por posições, o novato tocou no companheiro de Honda e o contato entre os dois acabou rompendo o cabo que comanda o controle de tração.

Pouco após o fim da corrida, ainda de cabeça quente, Dani falou com a imprensa e disse que o companheiro foi muito agressivo no MotorLand. Mais tarde e mais calmo, Pedrosa falou novamente com os jornalistas e explicou que sentiu o toque e depois, ao acionar o acelerador, foi ejetado da RC213V.

“Na entrada da curva, Marc foi agressivo demais e ele perdeu o ponto de frenagem. Ele tentou me evitar e me tocou de raspão na parte de trás da moto e, neste toque, ele, eu não sei como, cortou o cabo que controla o controle tração, então eu não tinha mais controle na traseira”, explicou. “Logo depois, eu toquei no acelerador e tudo que me lembro é de voar. Evidentemente, eu não pude evitar a queda. Felizmente, eu estou bem fisicamente, sofri um golpe muito forte no quadril e na região lombar, mas, tudo bem, tive muita sorte, pois a queda foi muito forte”, comentou.

Dani, entretanto, deixou claro que não ficou satisfeito com a manobra de Márquez durante a disputa. “Nós já tivemos algumas experiências no passado com alguns pilotos e, infelizmente, não terminou muito bem. Acho que é sempre a mesma história, no fim das contas, é sempre tarde demais”, declarou. “Eu ainda estou aqui. Poderia ter sido muito pior. Não pontuei. Não é minha culpa, eu estava em forma para vencer e tinha uma boa chance. Tem coisas que eu não posso controlar”, continuou.

Disputa entre Márquez e Pedrosa não terminou muito bem em Aragón (Foto: Repsol)
Questionado se Marc deveria ser punido pela manobra, Dani respondeu: “Não está na minha mão fazer isso. Não está nas minhas mãos pensar ou julgar. Tem uma parte deste paddock que trabalha com isso, então eles têm de considerar o que vão considerar. O limite é quando um cara coloca em risco os outros”, reforçou.

“Você pode pilotar acima do limite e cometer esse tipo de erro porque também têm outros pilotos que estão tomando cuidado com isso – não bater em ninguém. Muitos de nós poderiam ser mais agressivos e muitos de nós poderiam estar tocando outros pilotos, mas nós não fazemos isso”, lembrou. “O limite é quando um cara coloca outro em risco. Nós não podemos ter retrovisores”, seguiu.

“Quero saber onde é o limite, para que eu possa trabalhar com esse limite também. O limite tem de ser para todos da mesma forma, então, se valer tudo, porque é mais divertido, então todos devem ter essa chance”, defendeu. “Não estou falando especificamente sobre Marc, apenas de forma geral, coisas aconteceram antes de hoje.”

Terceiro colocado no Mundial 2013, Pedrosa se preocupou em reforçar que suas críticas não são direcionadas especialmente a seu companheiro de Honda, mas com a conduta de muitos outros pilotos também.

“Não é nada em especial com Marc, mas com a conduta de uma forma geral. Creio que têm vários pilotos no Mundial que respeitam bem as normas de conduta, em relação a não correrem sozinhos e que a pista não é só deles. Têm outros que não”, avaliou. “Nos treinos nós vemos isso em todas as categorias. Quedas feias, tontas, fortes, porque um piloto está no meio da pista, outro vem rápido, dá um toque e sai voando. Então, eu realmente creio que falta um pouco entender se vale tudo ou não. Porque se vale tudo, muitos pilotos que mais ou menos têm esse tato quando estão com outros pilotos, também podem ser agressivos, pois também sabem ser”, comentou.

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Durante a coletiva, Dani também fez referência ao GP de Portugal de 2006. Na época, Pedrosa errou e caiu, tirando Nicky Hayden, seu então companheiro na Honda, da etapa do Estoril, quando o norte-americano brigava pelo título. “No passado, eu também cometi erros, mas aprendi sem que ninguém me dissesse nada”, recordou.

Os jornalistas, então, disseram para Pedrosa que Márquez havia dito que gostaria de conversar com ele e quer manter a boa relação que tem com o companheiro mais experiente. “Sim! Tudo bem, está tudo bem e uma das coisas que temos de aprender, e eu aprendi muito, é que temos de perdoar. Mas, sabe, sempre é... depois. É o que eu digo, sempre… Aconteceu, te peço desculpas, aconteceu de novo e eu volto a pedir desculpas. É isso que eu vejo que muitos pilotos que não entendem. Eles não correm sozinhos”, frisou. “Evidentemente, entendo que sua ação foi involuntária. Aconteceu”.

Perguntado, então, se não há juízes na MotoGP para estabelecer o limite, Dani ponderou: “Bom, é uma área muito difícil, já se falou muito sobre ela, nenhuma ação é igual a outra e é difícil saber quando se vê uma ação”, explicou. “Tem muitas coisas que você vê no treino, e você vê se foi feito com intenção ou não. Não estou falando disso”.

Também, os repórteres perguntaram para o piloto da moto 26 se as regras tinham mudado em favor do espetáculo. “Cara, não vamos ser hipócritas. Está bom para todo mundo, para a imprensa, para a TV... As coisas são como são”.

Márquez venceu, mas pode sofrer uma punição em Sepang (Foto: Repsol)
O líder do Mundial, por sua vez, se defendeu dizendo que não provocou nenhuma situação arriscada no MotorLand. “Não acho que eu tenha criado nenhuma situação muito, muito perigosa. Se eu tivesse ido por dentro e o empurrado para fora, entenderia suas queixas”, falou Márquez. “Quando eu vi a situação, tentei levantar a moto e passar reto, sozinho. Eu sabia que se fosse por dentro, poderia ser penalizado. Foi simplesmente uma questão de azar. Eu praticamente não o toquei, só encostei. Se vê que toquei um cabo que, honestamente, nem sei onde está”, reconheceu.

“Creio que foi um lance de corrida muito estranho. Tiveram mais situações como estas no campeonato, nas quais eu também escapei da pista, mas desta vez dei azar de tocar no cabo, mas em nenhum momento foi um toque agressivo ou intencional, simplesmente tomei a decisão que parecia melhor para mim e para os outros pilotos, que era levantar a moto e escapar da pista”, justificou.

Os jornalistas pediram que Márquez comentasse a declaração de Pedrosa, que afirmou que ele é agressivo demais, mas o jovem espanhol afirmou que se sente seguro com sua forma de pilotar. “Se ele acha que eu fui agressivo, eu fui agressivo o ano todo. Mas, no fim, é o meu estilo de pilotagem e eu me sinto seguro assim”, assegurou.

Cumpridos os compromissos com a imprensa, Márquez foi ao motorhome de Pedrosa, mas não o encontrou. O novato foi então ao hospitality da Honda, onde Dani atendia os fãs que foram vê-lo para comemorar o aniversário de 28 anos do piloto. Segundo a imprensa espanhola, Marc esperou para falar com o companheiro de equipe e pediu desculpas, que foram aceitas.

O entrevero entre a dupla, no entanto, pode não ficar por isso mesmo. A direção de prova da MotoGP agendou um encontro com Márquez e Pedrosa no dia 10 de outubro, no circuito de Sepang, na Malásia. Com o novo sistema de pontuação por pontos, Marc pode ser agraciado com alguns pontinhos, o que, na prática, deve jogá-lo ao menos para o fim do grid.

Pela nova regra, o piloto que somar quatro pontos no carnê terá de largar da última colocação. Quem chegar a sete pontos, inicia a prova no pit-lane. Ao atingir a pontuação máxima, dez pontos, o piloto fica suspenso por uma corrida.

Márquez recebeu dois pontos de penalização no GP da Inglaterra, por ter ignorado bandeiras amarelas e colocado em risco os fiscais que atendiam Cal Crutchlow após o acidente. O espanhol não reduziu a velocidade em Silverstone e caiu no mesmo ponto do rival da Tech3 instantes depois. Descontrolada, a RC213V voou em direção a Crutchlow e os fiscais, mas ninguém se feriu.

O incidente de Aragón, além de mudar o clima nos boxes da Honda, também mostra a fragilidade de um item tão importante na motovelocidade atual: o controle de tração. Curiosamente, a Ducati bate HRC e Yamaha neste quesito. Na moto de Borgo Panigale, o cabo que controla o controle de tração está dos dois lados do protótipo, dando uma garantia extra aos competidores.

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